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Guia Alimentar Brasileiro: um modelo para os demais

  • 24 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Quando li pela primeira vez o novo Guia Alimentar para a População Brasileira, edição ano 2014, fiquei encantada com a inovação de um guia populacional que, à frente de muitos países, renovou o olhar da Nutrição, com foco especial em nossa cultura alimentar, no respeito às tradições culinárias de cada região brasileira e no bem-estar individual e familiar abordando, inclusive, a divisão de tarefas domésticas, para que possamos conseguir resgatar o (bom) hábito de cozinhar em casa, fato esse intimamente relacionado a um estilo de vida mais saudável, favorecendo não apenas a qualidade alimentar, mas também os relacionamentos familiares e interpessoais.


Um guia muito inovador para os modelos que tínhamos até então e, ao mesmo tempo, ‘conservador’ no que diz respeito à preservação da nossa cultura alimentar, ao resgate das práticas culinárias e à valorização da agricultura familiar e do hábito de cozinhar e de sentar-se à mesa com a família. Coisas simples que fomos perdendo aos poucos com um estilo de vida frenético, esmagador e estressante adotado nas últimas décadas e, assim, passamos a ‘engolir’, rápida e inconscientemente, alimentos altamente industrializados que, cá entre nós, só fazem bem à indústria.


Esse guia foi fruto de longas pesquisas científicas feitas por sérios pesquisadores brasileiros, dando origem a uma NOVA classificação dos alimentos segundo o grau de processamento. Vale ressaltar que os principais estudos na área de consumo alimentar e nutrição, em todo o mundo, utilizam, hoje, essa classificação, oriundas de pesquisas de tamanha seriedade e qualidade.


A preocupante notícia atual refere-se a uma solicitação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de revisão desse manual, questionando a NOVA classificação dos alimentos. Toda revisão de qualquer material científico é importante e necessária porque a ciência não para de evoluir. Isso é fato. Precisamos, porém, refletir sobre os argumentos (ou interesses) que motivam algumas revisões. Neste caso específico, trata-se de argumentos que negam o volume de publicações e o rigor científico que deram origem a uma classificação amplamente utilizada em pesquisas científicas, no Brasil e em diversos países do mundo, demonstrando, principalmente, a associação do consumo de alimentos ultraprocessados com o risco de doenças de grande importância epidemiológica, como as doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes.


Instituições técnicas importantes como a FAO, a OMS e a UNICEF consideram o guia alimentar brasileiro atual como um exemplo a ser seguido. De fato, os Ministérios da Saúde da França, do Canadá, do Uruguai, do Peru e do Equador têm seus guias alimentares inspirados no Brasil. Também, nós, brasileiros, precisamos valorizar e reconhecer o nosso guia alimentar como um modelo a se seguir por seus fundamentos técnico-científicos, por sua linguagem acessível e didática e por priorizar o bem-estar físico, psíquico e sociocultural do indivíduo e a proteção do meio ambiente, dando um significado à alimentação que vai além das quantidades e dos alimentos consumidos. É assim que devemos pensar e agir.



Anne Botelho

Nutricionista clínica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe

Doutora em Ciências da Saúde

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